Como vocês sabem, além de tendência específica na moda, gosto de abordar as tendências de comportamento. Pois acredito que a moda é um reflexo do espírito do nosso tempo — o tal zeitgeist. Esse conceito envolve o conjunto de aspectos intelectuais, comportamentais, sociais, econômicos e políticos de uma sociedade em uma determinada época.
A moda, como bem disse Cristiane Mesquita, é “a estética do comportamento”.
E o que está em alta nessa temporada? Uma tendência que se destaca na moda, gostemos ou não, é a volta do conservadorismo.
Claro, há outras tendências também, mas esse movimento é o mais marcante, e precisamos entender o contexto para analisá-lo.
Na última década, vimos grandes avanços em questões como sustentabilidade e diversidade.
Movimentos como o #MeToo, o aumento da representação de modelos plus size, a promoção da positividade corporal, a diversidade de raças, de tons de pele, de idades e de gêneros, e o crescimento das marcas sustentáveis, da moda circular, entre outros.
Mas, como acontece com qualquer tendência que se fortalece, sempre surge uma contra-tendência.
Uma parte da população começou a se sentir incomodada com todas essas mudanças, e até mesmo o movimento anti-woke surgiu, buscando uma volta a um cenário mais tradicional.
Agora em 2025, há uma sensação generalizada de retrocesso, e a moda reflete isso de forma clara.
Quais fatores estão por trás desse movimento?
- Crise econômica: O aumento do custo de vida e da inflação, especialmente nos países do hemisfério norte.
- Conflitos e crises geopolíticas: As ameaças de guerra e o fluxo de refugiados ao redor do mundo.
- Avanço da extrema-direita: Esse fenômeno não é restrito aos EUA, mas também está presente na Europa e em outras partes do mundo.
- Mudanças nas grandes corporações: Os poderosos das big techs e o esvaziamento das pautas de sustentabilidade e diversidade em algumas empresas e governos.
- Crise no mercado de luxo da moda: A “dança das cadeiras” dos estilistas nas grandes marcas, com uma crescente presença masculina, como vimos recentemente na Versace e na Dior, por exemplo.
Em momentos de crise, instabilidade econômica e insegurança, as pessoas tendem a olhar para o passado a fim de encontrar respostas. E, no cenário atual, não é diferente.
O reflexo disso na moda?
Marcas começam a adotar uma postura mais conservadora e cautelosa, sem querer arriscar em um cenário tão polarizado, com medo de afastar seus consumidores.
Estamos vendo o retorno de um estilo mais clássico, com referências como as “trade wives“ e as “mob wives“, e até o ressurgimento do corporate core.
A temporada de moda trouxe de volta essas influências, algo que antes parecia estar em declínio.


A jornalista Vanessa Friedman, do New York Times, fala sobre isso quando observa que, nesta temporada, marcas como a Stella McCartney estão buscando não retornar aos anos 80.
Como ela coloca: “Este é um mundo dos homens. Como a mulher deve se vestir para ele? A moda está lutando com uma mudança na política de gênero.”
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E me diga nos comentários qual sua opinião sobre o assunto.